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1 – MULTITASKING: o mito da produtividade que está te esgotando

Símbolo de produtividade ou armadilha silenciosa?

Você se considera uma pessoa multitarefa? Daquelas que respondem e-mails enquanto ouvem podcasts, ou revisam relatórios entre uma aba e outra do navegador? Se sim, você não está sozinho. E é exatamente por isso que este artigo começa com um alerta: o que parece produtividade pode, na verdade, estar te levando ao esgotamento mental.

O multitasking (ou, multitarefa) virou símbolo de eficiência no mundo moderno. Mas o que a ciência tem revelado é que esse hábito, aparentemente inofensivo, está profundamente conectado ao cansaço crônico, à perda de foco e à sensação constante de estar “sempre devendo”.

O que está acontecendo com a sua mente

No consultório, os relatos são cada vez mais frequentes e parecidos:

“Estou cansado, sem foco, esgotado”

“Sinto que não consigo mais produzir como antes”

 “Mesmo parado(a) a minha cabeça continua funcionando.”

Esses relatos não vêm apenas de pessoas em crise. Eles vêm de profissionais competentes, comprometidos, que vivem o dilema de não entender o porquê do esgotamento.

E, em muitos casos, o que está por trás disso é o padrão inconsciente da multitarefa.

O que diz a ciência 

Multitarefa não é sobre ser eficiente. É sobre estar constantemente dividindo a atenção.

O termo descreve a tentativa de realizar mais de uma tarefa simultaneamente, mas nosso cérebro, diferente das máquinas, não é programado para isso.

Diferente do que muitos pensam, ele não executa duas atividades focadas ao mesmo tempo. O que acontece, de fato, é um rápido vai e vem de atenção, conhecido como switch tasking. E esse processo tem um custo.

A cada troca de foco, perdemos tempo, energia e clareza mental.

Mas a neurociência tem um apelido para isso: suicídio cognitivo disfarçado de produtividade.

Estudos da Stanford University mostram que quem realiza multitarefa com frequência tende a se distrair mais facilmente, a perder eficiência na troca de atividades e a ter dificuldade para manter o foco em tarefas importantes. O cérebro entra em um “modo de exaustão silenciosa”.

Como o multitasking esgota o cérebro

Aqui vão alguns dados importantes:

  • Multitarefar pode reduzir sua produtividade em até40%, segundo estudos do MIT.
  • O chamado resíduo de atenção nos impede de mergulhar plenamente na nova tarefa, porque parte da mente ainda está presa na anterior.
  • Apenas cerca de 2% das pessoas são, de fato, multitarefas eficientes. O restante está apenas se desgastando.

É como tentar assistir a um filme enquanto escreve um relatório: você nem aproveita o filme, nem entrega um bom texto.

No fim, surge aquela sensação familiar: fiz mil coisas … e terminei nenhuma.

No ambiente de trabalho o impacto é ainda maior

Em diferentes contextos de trabalho, o cenário se intensifica: notificações constantes, prazos apertados, plataformas simultâneas, acúmulo de demandas.

A tentativa de responder tudo ao mesmo tempo parece o único caminho possível, mas o preço a pagar é alto.

Não se trata de falta de capacidade. Muito pelo contrário.
Pessoas comprometidas tendem a se sobrecarregar tentando “dar conta de tudo”.

E o multitasking se apresenta como uma falsa solução quando, na verdade, é parte integrante do problema.

Como sair desse ciclo (sem radicalismos)

Você não precisa virar um monge tibetano nem pedir demissão do seu empego para recuperar seu foco.

Mas precisa de escolhas conscientes e pequenas práticas que ajudem a retomar o controle da sua atenção.

Aqui vão quatro estratégias eficazes:

  • Blocos de foco (Timeboxing): delimite horários para atividades únicas, por exemplo: das 9h às 10h, só e-mails.
  • Pomodoro + Pausas reais: 25 minutos de trabalho, 5 de pausa longe do celular.
  • Desligue notificações: sons e alertas são ladrões de atenção.
  • Checklist físico: anote o que precisa fazer. Marcar como “feito” alivia sua mente e ajuda na concentração.

Não precisa aplicar tudo de uma vez. Comece com o que for possível.
Desligar as notificações ou escrever uma lista de forma não digital já pode ser o seu respiro de hoje.

A arte de proteger seu foco

Vivemos um tempo em que o valor está na velocidade, não na presença.

Mas você pode escolher um outro ritmo. Um que respeite sua mente, sua energia e sua saúde.

Seu foco é sua energia vital. Proteja ele como você protege o que há de mais valioso em você.

💬 Um convite gentil

Seu foco não é algo que você recupera num passe de mágica.
Ele precisa ser reconstruído com escolhas pequenas, conscientes e diárias.

✨ Talvez você não consiga fazer menos. Mas pode fazercom mais presença.
✨ Talvez não dê pra fugir do caos. Mas dá pra proteger seu espaço interno.

Respira. Organiza. Escolhe o próximo passo com calma.
Isso já é mais do que suficiente.

Fontes consultadas 

HARI, Johann. Stolen Focus: Why You Can’t Pay Attention – and How to Think Deeply Again. New York: Crown Publishing, 2022.

STANFORD UNIVERSITY. The Myth of Multitasking. Stanford Digital Wellness Initiative, 2023.

MIT NEUROSCIENCE LAB. Cognitive Costs of Task Switching. Massachusetts Institute of Technology, 2022.

AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. The hidden toll of multitasking. APA, 2022.

Este conteúdo faz parte da série Exaustão Invisível e foi criado de forma original, com base em pesquisa séria, escuta clínica e fontes devidamente referenciadas. Compartilhar é um gesto de cuidado. Copiar sem crédito, não.

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