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3 – Doomscrolling

O que é doomscrolling e como ele pode estar minando sua saúde mental

Você já se pegou rolando o feed do celular por horas, pulando de uma notícia negativa para outra? Incêndios, violência, crise climática, escândalos políticos, tragédias e mais tragédias… Tudo isso antes mesmo do café da manhã. 

Se esse ritual te soa familiar, talvez você esteja preso (ou presa) no chamado doomscrolling. Apesar do nome parecer uma gíria moderna, o termo carrega um peso real: é o consumo excessivo e compulsivo de notícias negativas, normalmente feito de forma passiva, em momentos de pausa ou cansaço. O que começa como um simples hábito pode rapidamente se transformar em um ciclo vicioso com impacto direto na sua saúde emocional.

O ciclo do “doom loop”

Estudos publicados na Nature Human Behaviour mostram que existe uma relação bidirecional entre humor negativo e consumo de conteúdo negativo. Ou seja: quando estamos mal, tendemos a buscar mais notícias ruins. E, ao consumir esse conteúdo, nos sentimos ainda piores. O nome disso é “doom loop“.

O cérebro humano tem um viés natural para a negatividade. Do ponto de vista evolutivo, prestar atenção ao perigo era uma forma de sobrevivência. O problema é que hoje, o “perigo” está a um clique de distância, e o cérebro continua operando como se cada notícia fosse uma ameaça real e imediata. Resultado: sistema de alerta ativado o tempo todo, níveis elevados de cortisol, e desgaste emocional.

O que o doomscrolling pode causar

A lista é longa e assustadora:

  • Ansiedade existencial: estudos mostraram que esse hábito pode levar a uma sensação profunda de desesperança e desconfiança na vida e nas pessoas;
  • Trauma secundário: ler constantemente sobre tragédias pode fazer o cérebro reagir como se estivesse vivendo aquilo;
  • Insônia, tensão, dor de cabeça, irritabilidade: sintomas físicos frequentes em quem não se consegue desconectar;
  • Dificuldade de concentração e foco: o famoso “popcorn brain” (cérebro superestimulado), pulando de estímulo em estímulo, sem capacidade de desacelerar; 
  • Queda na produtividade e decisões impulsivas: estudos apontam que empresas podem perder até US$ 5.600 por funcionário por ano devido ao uso excessivo e improdutivo das redes durante o expediente; 
  • Riscos para adolescentes: cérebros em desenvolvimento são mais vulneráveis aos efeitos.

Efeitos na saúde mental

Aos poucos, o cérebro começa a normalizar esse estado de tensão.

O corpo permanece em alerta, mesmo quando o perigo não é real e imediato. Isso gera uma espécie de fadiga emocional crônica — como se estivéssemos sempre esperando o pior acontecer.

Com o tempo, isso pode afetar a forma como nos relacionamos, trabalhamos e até como sentimos prazer nas pequenas coisas.

Quando tudo parece urgente, importante e ameaçador, fica difícil simplesmente estar presente.

Como sair desse ciclo? Sugestões para um respiro digital

Reconhecer o doomscrolling já é o primeiro passo. Mas você pode ir além, incorporando pequenas mudanças no seu dia a dia para proteger sua saúde mental:

  • Defina horários e limites: escolha momentos específicos para se informar, e use temporizadores ou aplicativos que restrinjam o tempo em redes sociais. Lembre-se: você não precisa estar “ligado(a)” o tempo todo.
  • Selecione suas fontes de informação: prefira veículos de notícias confiáveis e evite o consumo indiscriminado de posts ou grupos que disseminam informações alarmistas sem verificação.
  • Priorize a qualidade, não a quantidade: concentre-se em entender o essencial sobre um evento, em vez de se aprofundar em cada detalhe negativo. Nem toda notícia exige sua atenção imediata e profunda.
  • Encontre “âncoras de bem-estar”: quando sentir o impulso de rolar o feed infinitamente, substitua-o por uma atividade que traga calma: respire fundo, faça um alongamento, ouça uma música, converse com alguém próximo.
  • Pratique a compaixão (por você!): é natural se preocupar com o mundo, mas é fundamental cuidar de si para poder se manter forte e, se possível, agir de forma construtiva.

💬 Um convite gentil

Se você se identificou com os sinais do doomscrolling, saiba que você não está sozinho(a). Este é um desafio invisível de nossos tempos digitais, mas que pode ser superado com consciência e pequenas mudanças. Permitir-se desconectar é um ato de autocuidado e de coragem. Cuide da sua mente, ela é seu maior patrimônio.

Fontes consultadas

WILSON, J. et al. Doomscrolling and Emotional Wellbeing. Nature Human Behaviour, v. 6, n. 4, p. 472-480, 2023.

HARI, Johann. Stolen Focus: Why You Can’t Pay Attention – and How to Think Deeply Again. New York: Crown Publishing, 2022.

APA – American Psychological Association. Effects of media overexposure on stress response. Washington, D.C., 2022.

STANFORD DIGITAL WELLNESS INITIATIVE. Cognitive overload and attention fatigue in the digital era. Stanford University, 2022.

Este conteúdo faz parte da série Exaustão Invisível e foi criado de forma original, com base em pesquisa séria, escuta clínica e fontes devidamente referenciadas.
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