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4 – O Brasil parou de sorrir? 

A saúde mental em colapso

O Brasil, conhecido por sua alegria, seu samba e por seu espírito pacífico, hoje carrega um dos maiores índices de sofrimento psíquico da América Latina. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 5,8% da população brasileira vive com depressão, o que representa mais de 11 milhões de pessoas. Um dado alarmante que nos coloca como líderes regionais nesse indicador.

Brasil em Alerta: o colapso silencioso

Por trás do sorriso e da alegria tão característicos, emerge um cenário preocupante: a saúde mental se tornou uma prioridade urgente. É um colapso silencioso que afeta milhões de brasileiros, muitas vezes passando despercebido, mas se manifestando em dados alarmantes e em um cansaço que transcende o físico.

Muito antes da pandemia já estávamos cansados

Mesmo antes da pandemia, o Brasil já carregava o triste título de campeão em índices de ansiedade e depressão na América Latina. A sociedade moderna, com suas pressões incessantes por produtividade, a falsa promessa da multitarefa e a conectividade constante, já vinha cobrando um preço alto na nossa saúde mental, esgotando-nos silenciosamente antes mesmo do caos global se instalar.

O agravamento que ninguém esperava

Os dados mais recentes mostram que o problema não estagnou, pelo contrário, agravou-se. A pandemia de COVID-19 trouxe isolamento, luto, crise econômica e medo. Já nos primeiros meses da pandemia, entre março e abril de 2020, um estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) apresentou um aumento de 90% nos casos de depressão. E 82% dos psiquiatras apontaram agravamento dos sintomas em seus pacientes no mesmo período, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Com a retomada das atividades presenciais e o novo modelo de trabalho híbrido, esperava-se algum alívio. Mas ele não veio. Em 2024, o número de trabalhadores brasileiros afastados por transtornos mentais atingiu um recorde histórico: 472.328 licenças, segundo dados do Ministério da Previdência Social. Esse número representa um aumento de mais de 400% desde o auge da pandemia, quando foram registrados 91.607 afastamentos por questões diretamente ligadas à saúde mental.

A lógica da exaustão

Uma das razões para esse agravamento está no modelo tóxico de produtividade e na falta de políticas públicas efetivas para acolher esse sofrimento, que nos força a funcionar como máquinas, mesmo em tempos de exaustão coletiva. A cultura do que se chama de multitarefa, por exemplo, ganhou força no home office — e agora se mantém nas rotinas fragmentadas e ansiosas do pós-pandemia.

Multitarefa é, na verdade, alternar de uma tarefa para outra em alta velocidade. E o custo disso? Produzimos menos, cometemos mais erros e nos esgotamos mais rápido. O escritor Johann Hari chama isso de Efeito Memória Reduzida: “Se você alterna demais entre tarefas, há evidências de que você ficará mais lento, cometerá mais erros, será menos criativo e lembrará menos do que fez.”

O que dizem os relatos

Na clínica, os relatos se repetem: “estou cansado de tentar”, “me sinto injustiçado”, “não suporto mais tanta pressão”. Isso não é fraqueza e sim sintoma de um sofrimento coletivo que está transbordando. E que não pode mais ser ignorado.

Prioridade nacional: saúde mental

Em tempos em que sorrir virou verbo difícil de ser colocado em prática, cuidar da saúde mental precisa deixar de ser luxo. É prioridade. É sobrevivência.

Não é sobre tentar “ser feliz” a todo custo, mas sobre reconhecer a exaustão, validá-la e encontrar formas de proteger sua saúde mental.

Como cuidar de si neste cenário de exaustão

  • Valide o que você sente: o cansaço, a irritação, a ansiedade não são sinais de fraqueza, mas reações naturais de um corpo e mente sobrecarregados. Nomear o que sente é o primeiro passo para cuidar.
  • Estabeleça limites: aprenda a dizer “não” para o excesso de tarefas, para as demandas que roubam sua energia e para o tempo de tela que te esgota. Pequenos “nãos” podem ser grandes “sins” para sua saúde mental.
  • Desacelere o ritmo: resgate a monotarefa sempre que possível. Concentre-se em uma atividade de cada vez, seja ela trabalhar, comer ou até mesmo relaxar. O foco aumenta a eficiência e reduz a exaustão.
  • Reconecte-se com o básico: garanta uma boa noite de sono, cuide da sua alimentação e encontre formas de movimentar seu corpo. O básico que funciona é a fundação para o bem-estar mental.
  • Busque apoio: você não precisa carregar tudo sozinho. Conversar com amigos, familiares ou procurar um profissional de saúde mental (psicólogo, psiquiatra) pode ser um alívio imenso e um passo fundamental para encontrar o suporte necessário.

Cuidar da sua mente é um ato de autoproteção e autoamor. É a base para que você possa sorrir de novo, de verdade, e enfrentar os desafios com mais leveza e presença.

💬 Um convite gentil

Se este texto ressoou com o que você sente, saiba que você não está sozinho(a) nessa jornada. Compartilhe essa reflexão com quem também precisa validar o próprio cansaço e iniciar um caminho de autocuidado. Juntos, podemos colocar luz no que antes era invisível.

Fontes consultadas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Pesquisa sobre o impacto da pandemia na saúde mental dos pacientes. [S. l.]: ABP, 2020.

BRASIL. Ministério da Previdência Social. Boletim Estatístico da Previdência Social: dados sobre concessão de benefícios por incapacidade. Brasília, DF: Ministério da Previdência Social, 2024.

HARI, Johann. Stolen focus: why you can’t pay attention – and how to think deeply again. New York: Crown Publishing, 2022.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Depression and other common mental disorders: global health estimates. Genebra: OMS, 2017.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Pandemia de COVID-19 desencadeia aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão. [S. l.]: OPAS, 2022.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Pesquisa Saúde Mental e a Pandemia de Covid-19 no Brasil. Coordenado por Evandro Coutinho. Rio de Janeiro, 2020.

Este conteúdo faz parte da série Exaustão Invisível e foi criado de forma original, com base em pesquisa séria, escuta clínica e fontes devidamente referenciadas.
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